O Super Nintendo marcou época, mas mesmo em meio a tantos clássicos, existia uma sombra que pairava sobre alguns títulos. Por trás do colorido dos gráficos e da trilha sonora nostálgica, alguns jogos enfrentaram a tesoura pesada da censura ou foram proibidos em determinadas regiões. E os motivos? Variavam entre violência, religião, nudez, política e temas considerados polêmicos demais para a época.
Se hoje a gente tem jogos ultrarrealistas com liberdade criativa quase total, nos anos 90, a Nintendo tinha uma postura muito mais conservadora. E isso se refletia diretamente nos games que chegavam ao console. Mesmo jogos que hoje parecem inofensivos sofreram alterações para se adaptarem às exigências culturais e comerciais do ocidente.
Mortal Kombat (versão SNES)
Clássico dos fliperamas, Mortal Kombat foi uma verdadeira revolução nos jogos de luta. Mas quando chegou ao Super Nintendo, sofreu uma censura brutal. O sangue foi substituído por suor cinza, e os fatalities foram completamente modificados ou removidos. Enquanto a versão de Mega Drive manteve o conteúdo original (com uso de código), a da Nintendo foi considerada “light demais” pelos fãs. Resultado: perdeu em vendas e ficou marcada como o exemplo mais gritante de censura no SNES.
Wolfenstein 3D
Apesar de ser um dos precursores dos jogos de tiro em primeira pessoa, Wolfenstein 3D enfrentou uma barra no SNES. A Nintendo exigiu a remoção de todos os símbolos nazistas, mudanças em sprites e adaptação de conteúdo violento. O próprio Hitler foi rebatizado e teve elementos visuais alterados. Curiosamente, ainda assim o jogo manteve boa parte do seu clima original, mas sem a carga histórica que o tornava tão impactante.
EarthBound
Talvez você não associe EarthBound à polêmica, mas a verdade é que o RPG queridinho da Nintendo também foi alvo de censura. A versão ocidental teve alterações em sprites que faziam referência a religiões, mudanças em nomes de inimigos e corte de algumas falas consideradas inadequadas. Além disso, houve ajustes na trilha sonora para evitar possíveis processos por similaridade com músicas famosas. Mesmo assim, o jogo manteve seu charme e conquistou legiões de fãs.
Final Fight
Na versão original japonesa, o jogo de pancadaria da Capcom trazia mulheres como inimigas, bares com bebidas reais e nomes que faziam referência a gangues urbanas. Na versão ocidental, tudo foi suavizado. As mulheres viraram homens musculosos, as bebidas viraram refrigerantes genéricos e alguns cenários foram alterados para parecer menos “violentos”. Foi a maneira da Nintendo manter sua imagem “familiar” intacta.
Castlevania IV
Embora não tenha sido censurado de forma tão visível quanto outros, Castlevania IV também passou por adaptações. Cruzes foram removidas, referências à religião cristã foram suavizadas e elementos visuais foram alterados para atender às exigências da Nintendo na América. O tom sombrio permaneceu, mas mais discreto.
Zombies Ate My Neighbors
Esse jogo da LucasArts chegou a ser ameaçado de censura pela temática: crianças enfrentando zumbis, monstros e outras criaturas em um clima meio filme B de terror. Embora tenha sido lançado, a Nintendo barrou alguns efeitos visuais, especialmente o uso de sangue, e exigiu alterações no nome de alguns itens e inimigos. Apesar disso, o jogo se tornou cult e é lembrado até hoje.
Shadowrun
Este RPG cyberpunk teve uma versão bastante suavizada no SNES em relação ao material original. Diálogos foram cortados ou modificados, temas de violência urbana e rituais foram diluídos, e referências mais pesadas ao mundo corporativo foram evitadas. Ainda assim, o jogo se destacou pelo enredo e proposta inovadora.
Secret of Mana
Embora seja um RPG amado, também teve alterações na transição para o Ocidente. Algumas falas foram reescritas para suavizar tons mais maduros, e questões ligadas a magia e religião foram tratadas com mais cuidado na localização. Nada tão gritante quanto outros casos, mas ainda assim parte do pacote de polimento que a Nintendo exigia.
A política da tesoura: um controle criativo que marcou época
A censura da época pode parecer exagerada aos olhos de hoje, mas fazia parte da estratégia da Nintendo em manter uma imagem “segura para famílias”. Isso se refletia em capas alteradas, nomes trocados, sprites adaptados e conteúdo reduzido. Muitos desenvolvedores precisaram criar duas versões de seus jogos: uma para o Japão e outra mais “comportada” para o Ocidente.
Essas escolhas definiram o perfil do SNES como um console visualmente colorido, acessível e, por vezes, “polido demais”. Por outro lado, também mostraram como o contexto cultural influencia diretamente o que chega às mãos dos jogadores.
Com o passar dos anos, a Nintendo afrouxou essas restrições e passou a permitir jogos mais ousados em seus consoles. Mas o legado da censura no Super Nintendo continua como um capítulo curioso da história dos games.
Pra quem viveu essa época, essas diferenças entre as versões não passavam despercebidas. E mesmo com as limitações, os jogos marcavam — talvez justamente por causa do que tentaram esconder.