Quando a gente pensa em Super Nintendo, a imagem mais comum é a da infância feliz, jogando Mario, Donkey Kong e Street Fighter. Mas o SNES também foi palco de algumas das histórias mais tristes e emocionantes da história dos games. Em meio a pixels coloridos e trilhas marcantes, alguns títulos abordaram temas profundos como morte, solidão, sacrifício e perdas que doem de verdade.

Talvez você tenha jogado alguns desses clássicos sem perceber o peso narrativo por trás. Ou talvez nem soubesse que existiam. Mas uma coisa é certa: esses jogos provam que, mesmo nos anos 90, videogame já era capaz de fazer a gente sentir — e muito.

Terranigma — o sacrifício de um herói esquecido

Lançado apenas no Japão e na Europa, “Terranigma” é um RPG que beira o existencialismo. O protagonista, Ark, precisa reviver o mundo inteiro: ressuscitar continentes, recriar civilizações e restaurar a vida. Mas quanto mais ele faz isso, mais percebe que seu papel é de sacrifício. Sem spoilers diretos, o final é daqueles que deixa um vazio no peito. A sensação de solidão e de missão cumprida com um preço alto torna “Terranigma” uma das experiências mais tristes do Super Nintendo — e também uma das mais belas.

Final Fantasy VI — tragédia, colapso e superação

Diferente da maioria dos RPGs da época, “Final Fantasy VI” começa leve e vai se tornando cada vez mais sombrio. Tem personagens que perdem tudo, um vilão que literalmente destrói o mundo, tentativas de suicídio e temas pesados como abandono, culpa e perda de identidade. A cena em que Celes tenta tirar a própria vida após a queda do mundo é uma das mais impactantes do gênero, ainda mais considerando que estamos falando de um jogo de 1994. E mesmo com uma narrativa tão sombria, o jogo também fala de esperança — o que torna tudo ainda mais tocante.

EarthBound — por trás do humor, uma jornada emocional

À primeira vista, “EarthBound” parece uma comédia nonsense com piadas bizarras e estilo visual quase infantil. Mas ao longo da jornada, o jogo vai revelando camadas mais profundas. A batalha final contra Giygas é uma das experiências mais desconfortáveis e perturbadoras já criadas em um RPG. Além disso, EarthBound trata da infância, do amadurecimento e da conexão entre amigos e família. A leveza aparente contrasta com momentos de introspecção e até medo. E isso pega o jogador de surpresa — emocionalmente.

Bahamut Lagoon — amor, traição e desilusões

Outro RPG pouco conhecido do SNES, “Bahamut Lagoon” mistura estratégia com drama pesado. O jogo gira em torno de um grupo de heróis e sua luta contra um império tirânico. Mas o que realmente marca é o drama amoroso entre os personagens principais. Sem entregar demais, o protagonista vê seu amor ser arrancado, traído e manipulado, enquanto tenta salvar o mundo. A história mostra que nem sempre o herói termina ao lado da princesa — e que às vezes o final feliz simplesmente não existe.

Lufia II: Rise of the Sinistrals — quando você sabe o fim desde o começo

Apesar de tecnicamente ser um prequel, “Lufia II” carrega uma das histórias mais melancólicas do Super Nintendo. O jogador começa sabendo como a jornada vai terminar: com sacrifício, perda e a destruição do grupo original. Ainda assim, isso não tira o peso de acompanhar a história de Maxim, Selan e seus companheiros. A relação entre os protagonistas é construída de forma envolvente e sincera, o que só torna o desfecho ainda mais doloroso. Mesmo esperando o que está por vir, a carga emocional das cenas finais é devastadora. A música de encerramento, combinada com a sequência silenciosa de despedida, é daquelas que fica na cabeça por anos. É um lembrete de que, às vezes, saber o destino não diminui a dor da jornada — só a torna mais real.

Por que essas histórias ainda nos tocam?

Mesmo com tecnologia limitada, esses jogos conseguiram criar atmosferas densas e personagens profundos. Muito disso se deve à música, à arte e ao roteiro inteligente. Sem cutscenes realistas ou gráficos avançados, a emoção vinha da narrativa e da forma como ela se conectava com o jogador.

Esses games apostaram em sentimentos universais — perda, amadurecimento, amor e redenção — que continuam ressoando com quem os joga hoje, mesmo décadas depois. E em tempos de remakes e reboots, muitos fãs seguem pedindo que essas histórias sejam recontadas com o mesmo cuidado e profundidade.

Se você nunca deu atenção pra esses títulos, vale a pena revisitar. Com emuladores, traduções de fãs e uma mente mais madura, essas histórias ganham um novo impacto. São lembranças que ficam — e emoções que não se esquecem.

O Super Nintendo pode ter sido colorido por fora, mas algumas de suas histórias são mais cinzentas do que muita gente imagina.